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Lições do Fracasso

    Aqui meu amigo José Figueira de São Paulo, velejador de Dingue, conta uma experiência que teve no final de 2008, velejando na praia de Pernambuco, no Guarujá - SP.

Lições do Fracasso, por José Figueira

Na nossa vida devemos não apenas comemorar o sucesso, mas aprender lições no fracasso.

Da mesma forma que quando ocorre um acidente aéreoJosé Figueira, amigo velejador de Dingue as pessoas se debruçam e procuram possíveis causas do acidente e invariavelmente se deparam com uma sucessão de erros e falhas de procedimentos, devemos fazer o mesmo quando nos vemos diante de um acidente ou mesmos um fracasso em um simples passeio de veleiro no litoral.

Deixa primeiro me apresentar: Meu nome é José Figueira de Mello, 57 anos incompletos, engenheiro civil, casado e pai de 3 filhos. Fui empresário no ramo de Distribuição de Bebidas por mais de 20 anos e com o advento da AMBEV vendi minha operação. Posteriormente fui Diretor de Operações de uma empresa de Logística e atualmente presto assessoria a empresas de meu relacionamento, aguardando melhores oportunidades de voltar a empreender no mercado.

E foi um simples passeio de veleiro na praia com vento fraco e dia ensolarado que acabou se tornando um grande fracasso. Acompanhado por meu filho Gabriel (28 anos) e meu cunhado Marcos, ambos sem experiência alguma de vela, saí da praia de Pernambuco- Guarujá com vento bastante fraco para um pequeno passeio ao largo da baía. Como não tinha pressão na bolina e o cabo de elástico que a prende estava folgado, ela esporadicamente levantava e eu com preguiça de encurtar o cabo, pedia ao meu filho que empurrasse a bolina para baixo.

Como o vento estava fraco, meu filho impacientemente começou a andar pelo barco e ficou em pé na proa do veleiro. Não atendeu minhas ordens de retornar à sua posição, dificultando mais ainda as manobras com o Dingue.

Passados 30 minutos uma pequena brisa fez com que velejássemos um pouco mais rápido. Passei então o timão do barco ao meu cunhado para que experimentasse o comando do barco. Mantive, no entanto o cabo da escota na minha mão, usando o mordedor próximo para fixar o cabo.

Eis que derrepente fomos alcançados por um vento muito forte vindo da praia o que obrigou meu cunhado a devolver o comando do barco a mim. Nessa troca de comando, assumi o timão e passei o cabo da escota a ele que não sabia como soltar do mordedor. Não tendo tido tempo de posicionar o veleiro contra o vento, demos a primeira capotada.

E aí, lembra que falei que o elástico da bolina estava solto? Pois é, para desvirar o Dingue precisamos da bolina para puxá-lo e a bolina havia se soltado completamente! Com muito custo, entrando por baixo do barco conseguimos recolocar a bolina e desvirar o barco. E o vento continuava forte e conseqüentemente as ondas foram aumentando..

Quando desviramos, tivemos outro problema. O cabo da escota ficou preso na popa e não conseguia afrouxar a retranca. Além do mais, o pino que prendia a cana do leme estava folgado, se soltou e por conseqüência a cana do leme também saiu. Resultado: eu com pouca experiência, acompanhado de dois principiantes que batiam cabeça no barco no que se refere a equilíbrio e contrapeso e sem capacidade de manobra..... O Dingue virou de novo. E dessa vez eu fiquei com a cana do leme na minha mão!

Desviramos o bVeleiro Dingue do meu amigo José Figueiraarco mais rápido (afinal já estávamos ficando experientes nisso!) porém sem a cana do leme que não sei como, escapou de minha mão!

Meu filho perguntou: E agora? Agora vamos aguardar socorro daquela lancha que está vindo ali. Trate de fazer sinal até que eles nos entendam.  

Acabamos sendo rebocados por um bote de funcionários da ilha dos Arvoredos que, conforme disseram, quando começou o vento forte já se prepararam para nos ajudar!

Foi a oportunidade que tive de andar mais rápido num Dingue. Meus companheiros no bote e eu, como estava sem leme, fui sentado no fundo do barco bem na popa, recebendo um chafariz de água que subia pela caixa da bolina e caia bem na minha cabeça.

Voltando à praia, fiquei imaginado a preocupação de meus familiares com o ocorrido, e qual foi minha surpresa, nem tinham percebido, porque quando deu a ventania não sobrou um guarda-sol em pé na praia e todos estavam remontando as barracas e tirando areia das cadeiras.

Com o pé na areia, fiz uma rápida avaliação de meus prejuízos materiais:

  1. Óculos escuros da REEF no valor de R$ 800,00 que havia esquecido de prender corretamente na cabeça;

  2. Boné com aba larga atrás de tecido especial contra raios solares importado marca Columbia no valor de R$ 200,00;

  3. Biruta de pé de mastro no valor de R$ 50,00;

  4. Cana do leme e extensão da cana do leme no valor de R$ 210,00;

  5. Pequeno remo de emergência que estava solto no barco- valor R$ 70,00;

  6. Três latas de cerveja e alguns cabos soltos guardados na caixa isotérmica que não estava devidamente fechada com valor incalculável (as 3 cervejas! );

Total dos prejuízos financeiros: R$ 1.330,00 mais 3 latas de cerveja.

 

Vejamos agora, um breve resumo da sucessão de falhas:

  1. Não sendo muito experiente, jamais leve duas pessoas inexperientes com você. Se uma já atrapalha, duas atrapalham muito mais...

  2. Deixe antes de iniciar o passeio bastante claro que você é o comandante do barco e que suas ordens devem ser cumpridas e depois, se for o caso, esclarecidas;

  3. Jamais subestime o vento. A qualquer momento ele pode mostrar sua força. Esteja preparado para isso, inclusive prevendo a possibilidade de virar. Prenda sempre bem a bolina!

  4. Verifique bem todas as amarras e cabos, bem como os pinos de travamento do leme e da cana do leme, que não pode estar folgado!

  5. Estando no mar, lembre sempre de manter uma distancia segura das encostas de pedras para o caso de uma avaria não ter o perigo de bater nos recifes.

Apesar dos dissabores momentâneos e passageiros, continuo velejando, aprendendo, e vivendo prazerosamente com meu veleiro.

 

José Figueira de Mello (fevereiro/2009)

       
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