Na nossa vida devemos não apenas comemorar o
sucesso, mas aprender lições no fracasso.
Da mesma forma que quando ocorre um acidente
aéreo
as pessoas se debruçam e procuram possíveis
causas do acidente e invariavelmente se
deparam com uma sucessão de erros e falhas
de procedimentos, devemos fazer o mesmo
quando nos vemos diante de um acidente ou
mesmos um fracasso em um simples passeio de
veleiro no litoral.
Deixa primeiro me apresentar: Meu nome é
José Figueira de Mello, 57 anos incompletos,
engenheiro civil, casado e pai de 3 filhos.
Fui empresário no ramo de Distribuição de
Bebidas por mais de 20 anos e com o advento
da AMBEV vendi minha operação.
Posteriormente fui Diretor de Operações de
uma empresa de Logística e atualmente presto
assessoria a empresas de meu relacionamento,
aguardando melhores oportunidades de voltar
a empreender no mercado.
E foi um simples passeio de veleiro na praia
com vento fraco e dia ensolarado que acabou
se tornando um grande fracasso. Acompanhado
por meu filho Gabriel (28 anos) e meu
cunhado Marcos, ambos sem experiência alguma
de vela, saí da praia de Pernambuco- Guarujá
com vento bastante fraco para um pequeno
passeio ao largo da baía. Como não tinha
pressão na bolina e o cabo de elástico que a
prende estava folgado, ela esporadicamente
levantava e eu com preguiça de encurtar o
cabo, pedia ao meu filho que empurrasse a
bolina para baixo.
Como o vento estava fraco, meu filho
impacientemente começou a andar pelo barco e
ficou em pé na proa do veleiro. Não atendeu
minhas ordens de retornar à sua posição,
dificultando mais ainda as manobras com o
Dingue.
Passados 30 minutos uma pequena brisa fez
com que velejássemos um pouco mais rápido.
Passei então o timão do barco ao meu cunhado
para que experimentasse o comando do barco.
Mantive, no entanto o cabo da escota na
minha mão, usando o mordedor próximo para
fixar o cabo.
Eis que derrepente fomos alcançados por um
vento muito forte vindo da praia o que
obrigou meu cunhado a devolver o comando do
barco a mim. Nessa troca de comando, assumi
o timão e passei o cabo da escota a ele que
não sabia como soltar do mordedor. Não tendo
tido tempo de posicionar o veleiro contra o
vento, demos a primeira capotada.
E aí, lembra que falei que o elástico da
bolina estava solto? Pois é, para desvirar o
Dingue precisamos da bolina para puxá-lo e a
bolina havia se soltado completamente! Com
muito custo, entrando por baixo do barco
conseguimos recolocar a bolina e desvirar o
barco. E o vento continuava forte e
conseqüentemente as ondas foram aumentando..
Quando desviramos, tivemos outro problema. O
cabo da escota ficou preso na popa e não
conseguia afrouxar a retranca. Além do mais,
o pino que prendia a cana do leme estava
folgado, se soltou e por conseqüência a cana
do leme também saiu. Resultado: eu com pouca
experiência, acompanhado de dois
principiantes que batiam cabeça no barco no
que se refere a equilíbrio e contrapeso e
sem capacidade de manobra..... O Dingue
virou de novo. E dessa vez eu fiquei com a
cana do leme na minha mão!
Desviramos o b arco
mais rápido (afinal já estávamos ficando
experientes nisso!) porém sem a cana do leme
que não sei como, escapou de minha mão!
Meu filho perguntou: E agora? Agora vamos
aguardar socorro daquela lancha que está
vindo ali. Trate de fazer sinal até que eles
nos entendam.
Acabamos sendo rebocados por um bote de
funcionários da ilha dos Arvoredos que,
conforme disseram, quando começou o vento
forte já se prepararam para nos ajudar!
Foi a oportunidade que tive de andar mais
rápido num Dingue. Meus companheiros no bote
e eu, como estava sem leme, fui sentado no
fundo do barco bem na popa, recebendo um
chafariz de água que subia pela caixa da
bolina e caia bem na minha cabeça.
Voltando à praia, fiquei imaginado a
preocupação de meus familiares com o
ocorrido, e qual foi minha surpresa, nem
tinham percebido, porque quando deu a
ventania não sobrou um guarda-sol em pé na
praia e todos estavam remontando as barracas
e tirando areia das cadeiras.
Com o pé na areia, fiz uma rápida avaliação
de meus prejuízos materiais:
-
Óculos escuros da REEF no valor de R$
800,00 que havia esquecido de prender
corretamente na cabeça;
-
Boné com aba larga atrás de tecido
especial contra raios solares importado
marca Columbia no valor de R$ 200,00;
-
Biruta de pé de mastro no valor de R$
50,00;
-
Cana do leme e extensão da cana do leme
no valor de R$ 210,00;
-
Pequeno remo de emergência que estava
solto no barco- valor R$ 70,00;
-
Três latas de cerveja e alguns cabos
soltos guardados na caixa isotérmica que
não estava devidamente fechada com valor
incalculável (as 3 cervejas! );
Total dos prejuízos financeiros: R$
1.330,00 mais 3 latas de cerveja.
Vejamos agora, um breve resumo da sucessão
de falhas:
-
Não sendo muito experiente, jamais leve
duas pessoas inexperientes com você. Se
uma já atrapalha, duas atrapalham muito
mais...
-
Deixe antes de iniciar o passeio
bastante claro que você é o comandante
do barco e que suas ordens devem ser
cumpridas e depois, se for o caso,
esclarecidas;
-
Jamais subestime o vento. A qualquer
momento ele pode mostrar sua força.
Esteja preparado para isso, inclusive
prevendo a possibilidade de virar.
Prenda sempre bem a bolina!
-
Verifique bem todas as amarras e cabos,
bem como os pinos de travamento do leme
e da cana do leme, que não pode estar
folgado!
-
Estando no mar, lembre sempre de manter
uma distancia segura das encostas de
pedras para o caso de uma avaria não ter
o perigo de bater nos recifes.
Apesar dos dissabores momentâneos e
passageiros, continuo velejando, aprendendo,
e vivendo prazerosamente com meu veleiro.
José Figueira de Mello
(fevereiro/2009) |