Praia sem Marina
Eu
sonhei várias vezes em sair velejando de uma praia,
principalmente se fosse Boiçucanga, que é uma praia
que gosto muito, imaginava visitar as ilhas próximas
e contornar os morros entre uma praia e outra. Até
comprei uma carreta rodoviária para que isto se
torna-se realidade e a experiência me deixou
inúmeras lições, mas inicialmente vamos aos fatos:
-
escolhi a ponta da praia, ao lado de um rio que
desembocava para o mar com ponto de colocar o
veleiro na água e saída para a velejada,
principalmente porque as ondas quase não existiam.
Também pelo fato que neste ponto, tinha uma barraca
com estacionamento, que facilitaria parar o carro
com a carreta rodoviária.
- tive
uma conversa com um marinheiro local, que já
conhecia e me falou de uma pedra para se tomar
cuidado e das correntezas do local, também fiquei
com o celular dele, brifado para caso tivesse algum
problema, ele me iria resgatar com o barco a motor
dele.
- o
primeiro problema, foi que se precisa de mais gente
para retirar o veleiro de cima da carreta rodoviária
e colocar na carreta de encalhe, isto foi resolvido,
convidando alguns amigos que estavam comigo para
velejar.
- já na
montagem do veleiro, ainda na praia, fiquei bastante
incomodado, não estava acostumado com toda aquela
areia e a sensação era que estava sujando meu
veleiro, me deu uma saudades da graminha onde
costumo montar meu veleiro na represa de
Guarapiranga...
-
montagem feita, fomos colocar o veleiro na água, e
mesmo com pouca gente na praia, já percebi o assédio
dos banhista, principalmente de crianças, que
insistiam em pegar no veleiro e até tentaram subir
nele, mesmo eu pedindo para que não fizessem isto.
-
coloco o barco de ré, e assim que tinha água pela
cintura, viro ele para o mar, já planejando minha
saída.
- mesmo
tendo pouquíssima ondas e que quebram já na beira da
praia e mediam menos de 50 cm, contabilizo minha
primeiro decepção, no vai e vem das ondas, a popa
do barco bate forte no chão e fico com o prejuízo da
cana do leme quebrada. Após um esquema engenhoso,
adaptei para ser possível velejar com o "toco" dela,
sem grandes problemas.
-
depois de uns 20 minutos brigando, consigo sair
velejando, eu e mais duas pessoas a bordo.
-
novamente problemas: tinha sim vento, era visível a
uns 300 metros da praia, mas o morro ao lado de onde
estava, cobria ele e ali estava eu a passo de
tartaruga, tentando sair de perto da praia e de suas
perigosas ondas...
- após
mais 10 minutos, ai sim estava com vento na cara, e
velejando legal, resolvo sair um pouco mais longe da
praia, o mar estava calmo, mas mesmo assim você
subia e descia pelo menos 1 metro pela movimentação
dele, algo que nunca aconteceria numa velejada na
represa. Não que ficasse com medo, mas estava sendo
uma velejada "diferente"
- 40
minutos depois, já a uns 3000 metros de onde sai, o
"vento zera"... que "m...."!!! bem...
tínhamos água a bordo, celular, marinheiro brifado
para nos resgatar se necessário, portanto nada de se
preocupar, vamos curtir o visual e ir aos poucos
tentando voltar para nosso ponto de saída.
- a
correnteza nos dá sinal que ela existe e esta
atuando, o pouco vento que tínhamos, "não" vencia
ela... algo para se preocupar... sugiro
a todos repassarem seus protetores solares, tomamos
um pouco de água e continuamos velejando no rumo
desejado, mas parados por força da correnteza.
- aos
poucos vamos voltando para nosso ponto de saída, e
já
próximos das pedras no morro da beira da praia,
"precisamos sim" de um mínimo de vento, para não
corrermos risco algum de a correnteza nos levar para
cima delas.
-
depois de 2:30 horas, estou chegando na praia,
levanto a bolina, solto o leme que estava travado
abaixado e vamos para a praia.
- isto
sim me preocupou: as criança correram para a
"frente" do barco tentando pegar ele... eu
gritava que era perigoso, mas não estavam nem ai,
queriam tocar no barco. Elas não imaginavam, que
quando estava chegando na praia, estava praticamente
ao sabor das ondas!! sem total controle do
barco, que com as pessoas que estávamos nele, pesava
uns 350 kg, um peso "descontrolado" surfando umas
ondas e que poderia
machucar alguém!! isto me deixou "muito"
preocupado.
-
enfim, conseguimos chegar a praia, sem bater em
ninguém e nem quebrar mais nada, mas acreditem: não
foi prazeroso!!! tive um mix de preocupações
na velejada, talvez até por inexperiência.
Conclusões:
- uma saída em praia sem marina, requer um
planejamento detalhado do que vai fazer, sem chances
para erros.
- você realmente judia do seu equipamento: areia,
salinidade, etc, sem falar de ter mais risco de
quebrar o seu veleiro, enfrentando as ondas, etc.
- é realmente muito bom velejar na praia, mas sugiro
fazer isto com junto de mais velejadores, podendo um dar
cobertura ao outro.
- acabei não indo em nenhuma ilha como tinha
planejado... elas ficaram lá no horizonte me
esperando, mas optei pela segurança de velejar próximo
do litoral, estando este plano adiado para quanto
estiver, com algum companheiro experiente junto
comigo e de preferência em mais de um veleiro.
- senti muito a falta de uma vela que pudesse
abaixar, aqui na praia teria sido muito útil,
facilitando e
aumentando a segurança da operação como um todo.
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