Técnicas de Regata para a Classe Dingue
Troquei email com o
Fábio Suyama Ramos de Florianópolis, campeão
Brasileiro da Classe Dingue, por mais de uma vez e
que me enviou um belo presente: uma apostila sobre
técnicas para regatas, especifico para os
veleiros Dingue e me autorizou a colocar no site, o
qual agradeço muito. Inicialmente colocarei somente
o texto, mas em breve, devo ilustrar o máximo que
conseguir com fotos! Vamos a elas:
Posicionamento da Tripulação |
Sempre que possível à tripulação deverá
estar sempre junta, bem próximo um do outro,
concentrando peso para evitar o efeito
“gangorra”.
Vento fraco
O proeiro deverá ficar a sotavento e mais a
frente (do lado da bolina), para que o
timoneiro consiga ficar a barlavento com uma
visão melhor da vela.
O timoneiro também deverá ficar mais à
frente do que o normal, a posição ideal é
bem em cima da posição do mordedor.
Recomendo tirar o mordedor e acostumar a
velejar sem o mesmo.
Perna de Popa
A vela deverá ficar levemente além do mastro
e a tripulação a barlavento mais à frente.
Manter o Dingue adernado. Isso deve ser
praticado para evitar capotagem.
Dica:
A
popa do Dingue no vento fraco deverá estar
levemente “fora d’água”, para diminuir o seu
arrasto e levemente adernado pra sotavento (contravento)
para que a vela esteja sempre armada (com a
gravidade). A tripulação deverá se mexer o
mínimo possível.
Vento
médio
Com o aumento da intensidade do vento a
tripulação começa a voltar à posição normal
(também na perna de popa). Sentando mais a
borda até que o barco fique equilibrado, já
não há necessidade de “embicar” tanto o
Dingue.
Vento
forte
A tripulação deverá sentar um pouco mais
para trás. Escorando juntas.
Perna de
popa
Quando o vento está muito forte o proeiro
poderá ficar agachado no meio do cockpit,
sempre atento à entrada da rajada, quando
ele irá jogar o corpo mais para trás
evitando que o Dingue embique em uma onda.
Dica:
No vento forte devemos evitar andar com o
Dingue (contravento) adernado para não
derivar (andar lateralmente), se entrar uma
rajada muito forte, mantenha-se na escora e
alivie um pouco a escota, assim que o barco
equilibrar volte a caçá-la.
Tudo o que foi citado, depende do peso da
tripulação, além da diferença e do peso
entre o proeiro e timoneiro. |
Regulagem da Vela |
As medidas citadas aqui não são regras (são
referências), porque a regulagem varia de
acordo com cada marca de vela, peso da
tripulação e estilo de velejada do
timoneiro.
Citarei como cada regulagem influencia o
andamento e vocês tirem as suas conclusões.
Altura da
Amarração da Vela (tope)
Tenho amarrado o tope da vela a uns 13
centímetros do topo do mastro. No vento
fraco amarro um pouco mais pra cima e no
vento forte um pouco mais para baixo.
Cuidado para não soltar demais e ficarem sem
curso (espaço para caçar a testa) entre a
base da vela e garlindéu.
Eu procuro evitar a variação excessiva de
altura para que eu sempre tenha a mesma
referência (altura da retranca, e base da
testa).
Testa
Ao contrário que muitos pensam, quando
caçamos a testa estamos trazendo a bolsa
para frente da vela que é um perfil
aerodinâmico mais indicado para o vento
forte, tendência de diminuir a orça.
Com o vento fraco a testa é usada mais solta
para a bolsa deslocar mais para o meio da
vela fechando a valuma e gerando mais
potência. Tendência de aumentar a orça.
Esteira
Regula a parte inferior da vela, essa
regulagem é mais fácil de notar.
Esteira solta mais potência (vento fraco com
ondas).
Esteira caçada menos potência (vento forte).
Traveller
(pé de galinha)
Ajuda a regular a tensão da valuma e flexão
do mastro.
Traveller mais solto (alto) vento fraco,
para a retranca ficar mais no meio do barco
sem “estrangular” (fechar) em excesso a
valuma.
Traveller mais caçado (baixo) vento forte,
mais curso para caçar a escota e fletir mais
o mastro.
Burro
Muito usado no través e empopada. No
contravento deixar esticado sem muita
tensão, quando a escota estiver toda caçada.
Vento forte (popa), mais caçado para gerar
potência (valuma esticada) e manter o barco
mais equilibrado.
Vento fraco burro mais solto, mas com um
pouco de tensão, para que a valuma não fique
“batendo” nas ondas e a retranca fique
“solta” para abrir.
Dica:
Nunca copie cegamente a regulagem do
próximo, compare velocidade e orça,
diferença de peso dos tripulantes, vá
trabalhando para achar a sua melhor
regulagem; |
TUNNING GUIDE - Classe DINGUE
um guia
elaborado para a Quantum Sails |
Tabela de regulagem no contravento.
Regulagem
|
Vento Fraco
|
Vento Médio |
Vento Forte |
Testa |
Folgada: rugas na diagonal e ou
horizontal |
caçada |
Bem caçada |
Esteira |
Sem ondas: 12 a 15 cm da
retranca |
Levemente mais caçado que no
vento fraco |
Bem caçada sem fazer ruga |
Burro |
Leve tensão |
Um pouco mais de tensão do que a
escota |
Um pouco mais de tensão do que a
escota |
Escoteira |
solto |
médio |
caçado |
Olhal do Tope |
Mais alto, a vela fica em torno
de 15cm do garlindéu. |
Um pouco mais baixo |
Mais baixo, com espaço
suficiente para dar tensão na
testa |
|
Vento Sujo |
O vento sujo é o vento com turbulências
causadas por outras velas e até mesmo pelo
casco da comissão de regatas se for grande,
é claro.
A posição que devemos evitar em relação ao
adversário no contravento é o seguinte: o
rumo da popa e as laterais a partir do meio
do barco em ambos os lados, sotavento e
barlavento. A área triangular da vela a
sotavento é onde há mais vento sujo.
Na empopada é na frente da vela.
A distância que o vento sujo afeta é
variável, teoricamente quanto maior a
intensidade do vento maior é a área do vento
sujo. Quanto mais fraco menor a área.
Como método de defesa direta de um
adversário você deverá deixá-lo no vento
sujo.
Mas não esqueça da flotilha, pois ambos
poderão ser superados por um terceiro.
|
Rondadas |
A rondada é a alteração da direção do vento.
O vento nunca é da mesma direção, ele é
afetado por diversos fatores: mudança de
temperatura, nuvens baixas (alta pressão,
baixa pressão), acidentes geográficos
(morros, dunas), prédios, casas, etc.
No contra vento é de suma importância
identificar estas rondadas.
Uma maneira fácil de verificar isto é marcar
pontos de referência do nosso rumo em terra.
A rondada é NEGATIVA quando: o vento muda de
direção e obriga a arribar (andar abaixo do
nosso rumo) para a vela não panejar ou
manter as birutas nas posições ideais.
A rondada é POSITIVA quando: o vento muda de
direção e pode-se orçar e andar acima do
rumo anterior.
Então no contravento você deve procurar
sempre a rondada positiva para percorrer o
menor trajeto possível.
Não esqueça: sempre que um bordo fica
negativo o outro bordo fica positivo.
Geralmente você deverá cambar na rondada
negativa e orçar na positiva. |
Largada |
Teoricamente a linha de largada deverá ficar
perpendicular (90º.) a direção do vento, mas
a ISAF aconselha as Comissões de Regatas
favorecerem levemente a marca (bóia) para
não haver acúmulo de barcos ao lado da CR
prejudicando assim a visualização da linha
de largada, guardem essa dica.
Como foi visto anteriormente, o vento sempre
tem uma variação na sua direção. É essa
variação que você deverá estar ciente para
achar o lado favorável da largada.
Existem várias maneiras de perceber qual o
lado é mais favorável, uma delas é a
seguinte: vá ao meio da linha de largada e
coloque a proa na direção do vento até
retranca ficar no meio do barco com a vela
panejando, o lado que aproa apontar mais é o
favorável.
Identificando o lado favorável da largada,
você deverá avaliar se realmente esse lado
favorece no período pós-largada/ início da
perna. Não adianta você identificar o lado
direito da largada como favorável se
o lado melhor para fazer o contravento
inteiro é o esquerdo.
Você deve largar o mais próximo da sua
estratégia da perna de contravento.
Veleje até a CR e marque um ponto em terra
do alinhamento do mastro da CR e a marca,
assim você sempre saberá se está acima ou
abaixo da linha de largada (muito importante
na regra de 1 minuto, bandeira preta).
Depois disto você deverá traçar a melhor
estratégia para aproximar da posição de
largar no tempo correto, com vento limpo,
com velocidade e se possível, livre para uma
mudança de rumo para iniciar a sua
estratégia do início da perna de contravento.
Dicas:
Chegue antes à linha de largada para
testá-la várias vezes;
Cheque se há rondadas em períodos de tempo
constante;
Marque um ponto de alinhamento da largada em
terra;
No sinal de preparação (Papa) você já está
em regata;
Antes da largada não há rumo correto, o
barco de sotavento tem direito a orçar até a
linha do vento (Definições do RRV).
Cuidado com os famosos “pára-quedistas”,
barcos que vem de través com velocidade
atropelando os que estão posicionados na
linha, muitas vezes eles não sabem que estão
errados e não tem controle dos barcos;
Largue com o barco seco;
Largue no tempo;
Largue com velocidade;
Largue com vento limpo;
Largue o mais próximo da sua estratégia do
início da perna de contravento;
Confira a bandeira de chamada individual (a
CR não pode avisar verbalmente os barcos
escapados, somente por sinal visual); |
Escolhendo o Bordo no Contravento |
Como já foi falado anteriormente o vento
sempre está variando o seu rumo e também em
sua intensidade, é de grande valia
reconhecer o local da raia antes da regata
para saber como está o regime de vento
local.
Geralmente em represas e lagoas o vento é
muito influenciado por aspectos físico
(prédios, casas, morros, arvores, etc) que a
rodeia.
Lembre-se que você deverá sempre estar na
rondada positiva, aquela que permite
aproximar a proa no objetivo, marca de
barlavento.
Em algumas situações, um lado da raia pode
ter mais vento que o outro, assim você tenha
que até andar um pouco mais para depois
pegar um vento mais forte e constante.
Dicas:
Chegue pelo menos 30 minutos antes da
largada, para conferir o regime de vento na
raia;
Sempre marque um ponto de referência do seu
rumo em terra (identificando rondadas);
No vento fraco, muita atenção nas rajadas,
são as áreas mais crespas e escuras na
superfície;
Sempre que entrar a rajada, a direção do
vento mudará (positivo ou negativo);
Atenção nos barcos distantes, referência
para saber se está entrando vento, com mais
intensidade e qual a direção;
Atenção nos sinais em terra: chaminé,
fumaça, etc;
Atenção em nuvens baixas, geralmente são
áreas de baixa pressão, pode ser que tenha
vento em baixo dela; |
Aproximando da Marca de Barlavento |
Uma maneira segura de aproximar da marca no
contravento em campeonatos grandes é sempre
chegar com amura a boreste (retranca
esquerda) Regra 10.
Muita gente acha que tem direito cambando em
compromisso interior na marca de barlavento,
estas pessoas estão equivocadas, no
momento da manobra você perde o direito R
18.3.
Salvo exceções, chegar muito cedo ao “lay
line” é arriscado.
O “lay line” é o rumo que você consegue
chegar à marca diretamente, um exemplo: eu
posso decidir em fazer o contravento em uma
cambada, largo pra à direita da raia ando
até ficar no rumo da marca, cambo e sigo em
direção da mesma (lay line).
Porém o “lay line” sempre está mudando de
acordo com as rondadas. Voltando ao exemplo:
já cambei e estou indo direto para a marca,
o vento rondo positivo, eu posso orçar mais,
mas como eu já estou com o rumo no meu
objetivo não convém e eu tenho que soltar a
vela para manter as birutas na posição
ideal, isso é conhecido como “Sangrar a
Bóia”. O meu adversário que vinha atrás vai
ganhar terreno com essa rondada positiva,
ele poderá cambar antes, pois o “lay line”
mudou mais para a esquerda da raia.
Dicas:
Postura conservadora: aproximar da marca com
amura a BE;
Alcançar o “lay line” mais próxima da marca.
Exceções: correnteza muito forte ou
diferença de intensidade de vento em um dos
lados da raia;
No vento forte deve sair da escora somente
no momento de começar a soltar a escota
(sincronismo da tripulação);
Sincronizar a folgada da escota com a
arribada;
Tocou a marca, afaste-se e pague a
penalidade (360º, um jib e uma cambada), o
cabo de âncora não é marca (Definições);
|
Perna de Sotavento (empopada) |
Na empopada você deverá ficar atento em não
sair demais do alinhamento das marcas.
O Dingue não ganha tanta velocidade andando
um pouco mais orçado ou pela valuma (velejar
com o vento entrando pela valuma) do que a
popa rasa.
É claro que se você identificou uma área com
uma intensidade de vento menor (buracos de
vento) na subida do contravento, pode ser
vantagem “desviar” de tal área.
Aqui é mais fácil de visualizar, colocar e
fugir do vento sujo dos adversários.
Posicionamento e regulagem na empopada vide
tópicos.
Dicas:
Procure velejar com direito amura a BE
(retranca à esquerda, R 10), todos os outros
barcos com amura BB deverão manter afastado
de você, mesmo o que estiver na sua proa; |
Aproximando da Marca de Sotavento |
Quando sozinhos devemos abrir na entrada da
marca para permitir uma saída mais próxima
no contravento, igual ao carro de corrida na
curva.
Quando estiver com um ou mais adversários,
procurar manter compromisso interior, ficar
por dentro na bóia. Esse compromisso é feito
na entrada da área de dois comprimentos do
Dingue da marca (R 18).
Dicas:
Montar a marca aberto para sair fechado;
Regular a vela e abaixar a bolina na
aproximação da marca, a regulagem fina após
a montagem;
Caçar a vela sincronizada com a orça;
Manter o compromisso interno na marca;
Tocou na marca afaste-se e pague a
penalidade (360º, um jib e uma cambada),
cabo da âncora não é marca (Definições);
|
Aproximando da Linha de Chegada |
Muitas pessoas esquecem do alinhamento entre
dois barcos para sabermos quem está na
frente no contravento.
Não é estar simplesmente com uma pontinha da
proa na frente do adversário.
O que vale a uma linha imaginária que faz
90º com o vento. Correspondendo a mais ou
menos 45º em relação ao barco. Isso é muito
difícil de ver quando os dois barcos estão
muito distantes.
A maneira segura de marcar um adversário é
cambar na diagonal do barlavento dele.
Cambar logo na frente do seu rumo pode ser
bom naquele bordo especificamente, se é
cambar e chegar, mas se ainda estiver longe
da chegada você dá chance no outro bordo de
ficar lado a lado.
Dicas:
Marcar o adversário sempre na diagonal do
barlavento;
Verificar se a linha não está torta, se
estiver reconhecer imediatamente o que é
mais próximo: marca ou CR;
Afastar tão logo que possível da linha de
chegada e o seu sotavento; |
Curriculum Vitae de nosso colaborador |
Nome: Fábio Suyama Ramos
Tel: 48 9963-9509/ 48 232-9506 (com)
e-mail: fabiosuyama@terra.com.br/kataventocn@terra.com.br
Possui habilitação de mestre amador no.
441-A01250-7
Generalidades:
Proprietário da Katavento Capas Náuticas
(acessórios para veleiros e lanchas).,
Representante da Holos Brasil (fabricante do
Dingue) e da veleria Quantum Sails.
Ministra clínicas de aperfeiçoamento da
prática da vela.
Foi professor de vela no Iate Clube Veleiros
da Lagoa (Lagoa dos Esteves) de 2000 a 2003
e no Lagoa Iate Clube LIC de 90 a 2.000.
Arbitragem:
Foi árbitro da FEVESC em 1999 a 2001.
Participou do Curso de Árbitros de Regata
ministrado pelo Nelson Ilha em 99 –
Florianópolis SC,
E do ISAF Race Management Seminar ministrado
por Antony Lockett em 2000 – Porto Alegre
RS.
Veleja desde 1980, iniciando na classe
Optmist, passando por outras várias: Penguim,
Europa, Laser, Snipe, 420, 470, Oceano, HC
16 e Dingue.
Principais Títulos na Classe Dingue
Campeão Brasileiro 2002, 2001 e 2000.
Vice Campeão Brasileiro 2004, 2003 e 1999.
Campeão Sul Brasileiro 2003 e 2001.
Vice Campeão Sul Brasileiro 2002.
Vice-campeão Sudeste Brasileiro 2002.
Campeão Paulista 2004. |
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